São cerca de 12.500 os proprietários que de norte a sul do país possuem quase 21 mil moradias, apartamentos e quartos individuais a serem rentabilizados no mercado de alojamento local. A grande maioria (84%) é de particulares e cerca de 92% dos proprietários são titulares de uma ou duas propriedades.
Apesar de se constituírem como uma minoria, há já 838 titulares que exploram entre 3 e 9 unidades, 98 entre 10 e 20 unidades e 71 que têm mais de 20 unidades.
A radiografia deste florescente sector foi feita pela ALEP (Associação do Alojamento Local em Portugal) que se apresentou publicamente esta semana e que para já conta com 50 associados fundadores. “Este mercado cresceu num ambiente de crise e de economia partilhada quando muita gente percebeu que não fazia sentido ter as suas casas fechadas. E a internet foi o grande facilitador”, explica Eduardo Miranda, presidente desta nova associação, na conferência que decorreu num apartamento turístico situado no coração da Baixa de Lisboa.
A casa pertence a um proprietário francês que a rentabiliza quando não está em Lisboa, com a preciosa ajuda de uma gestora local que assegura a receção dos hóspedes e toda a manutenção do apartamento. Os estrangeiros que ‘descobriram’ recentemente Portugal fazem assim parte do vasto grupo de proprietários destas casas de arrendamento de curta duração onde se incluem também maioritariamente os portugueses que possuem segundas habitações (que em média são usadas apenas três semanas por ano) e também um número significativo de emigrantes que, devido à crise, deixou o país.
“Com a recessão, para muitos dos que possuíam uma segunda habitação, passou a ser inviável manterem-na fechada pois estavam em risco de a perder. Quanto aos emigrantes, basta dizer que Portugal perdeu uma média de 100 mil pessoas por ano, nos últimos três anos. Muitos deles possuem casas cá e não as querem vender, pois precisam delas quando regressarem”, aponta o porta-voz da ALEP.
70% DO ALOJAMENTO LOCAL ESTÁ NA PRAIA
Se é certo que Lisboa e também o Porto têm vindo a multiplicar a oferta no âmbito do alojamento turístico nos últimos três anos, são as localidades costeiras que se destacam no número de moradias e apartamentos registados.
Os dados analisados pela ALEP mostram que 70% das propriedades estão em zonas de praia, com o Algarve a concentrar 54% do total da oferta de alojamento local.
Num ‘top 10’ dos principais concelhos com esta oferta de turismo, oito estão situados no Algarve (fora desta região, só surge Lisboa e Porto). Portimão surge em 2º lugar com 1962 propriedades, Albufeira a seguir com 1816 e Lagos com 1646.
Mas ao nível de concelho, é Lisboa que lidera neste momento em quantidade de estabelecimentos — 3122. Lisboa e Porto (1261 unidades) que simbolizam o alojamento local urbano concentram 21% das unidades a nível nacional.
“O mercado de turismo está em alta e também a procura por experiências diferentes”, diz Eduardo Miranda, lembrando que hoje em dia cada vez mais pessoas querem vivências autênticas nas suas viagens, “que permitam mais contactos com a população local que vá além do motorista de táxi ou do rececionista do hotel”. Outra variante cada vez mais popular são as viagens multigeracionais, onde vários elementos da família se reúnem para uma jornada além-fronteiras, privilegiando o convívio mais próximo, requerendo por isso uma acomodação mais familiar.
Recusando a teoria de que os alojamentos estão a tornar-se muito concorrenciais aos hotéis, o presidente da ALEP faz questão de frisar que “os clientes mais problemáticos dos alojamentos locais são precisamente os dos hotéis e os clientes low cost, pois não se adaptam ao conceito. Concorremos, acima de tudo, entre nós e por um mercado que quer especificamente este tipo de oferta”.
Para as vozes que se levantam contra o excesso de unidades nos bairros históricos de Lisboa, trazendo uma enchente de turistas que acabam por descaracterizar os locais, Eduardo Miranda, que possui 10 unidades na zona de Alfama, defende-se, lembrando que o turismo está a dar vida nova a várias zonas das cidades, pela reabilitação dos espaços.
“Entrei em Alfama em 2009 e aí sim, vi tudo descaracterizado. Alfama estava ao abandono. Era uma ruína porta sim, porta não. E no entanto, agora quem lá passa verá que tudo está muito mais bonito”, refere o responsável, acrescentando que “não há justificação para alguém fazer um investimento num prédio que não seja a da rentabilidade económica”.
Artigo visto em: Um ano depois da regulamentação do Alojamento Local (Sapo)